terça-feira, 23 de novembro de 2010

Feche os olhos para Olhar

análise dirigida de: Feche os Olhos para Olhar.

Assessoria de Imprensa: O atual espetáculo da desCompanhia de dança feche os olhos para Olhar, mais que uma reflexão é uma construção viva sobre o olhar que vai se revelando através de uma organização espontânea. Como uma espécie de jogo, o espetáculo é uma experiência em tempo real, traz um sentimento de estranheza devolvendo na mesma proporção um estado de atenção, um olhar de espanto, um olhar de coisa nova. Trata-se do olhar que se faz no toque, na relação, nos sentidos e acima de tudo na percepção.
O olhar em questão é o ver que se abre para as qualidades dos outros sentidos. O que olho quando vejo? Onde está seu olhar nesse instante? Estas questões estão presentes no espetáculo não para serem respondidas, mas para se tornarem realmente vivas para cada um de nós. Uma presença orgânica nascida da percepção do momento.
O interesse pelo olhar nos proporcionou uma grande aventura por vários universos: da literatura explorando a poesia de Sergio Fingermann e de Alberto Caeiro, da filosofia mergulhando de corpo e alma nas obras de José Gil, Merleau Ponty e Georges Didi Hubermann, das artes plásticas refletindo sobre apreensões nas obras de Cézanne e Paul Klee. E é para compartilhar essa aventura que a desCompanhia de dança convida o público a fechar os olhos para olhar.

Ficha Técnica
Direção e Criação: Cintia Napoli
Bailarinos/Criadores: Juliana Adur, Peter Abudi e Yiuki Dói

Por mim: Primeiro contato com o Teatro Cleon Jacques, propriamente dizendo. O lugar é privilegiado, contando com uma vizinhança belíssima (o Parque São Lourenço, o Colégio Santa Maria e o Mercadorama). A delimitação do espaço platéia/palco já foi diferenciada. Ao se entrar no palco, pela porta dos fundos, os atores já estavam deitados no chão, em meio a passagem, sorrindo e cumprimentando a todos que os fitavam. Havia cinco pequenas arquibancadas, três do lado direito, duas do lado esquerdo, de quem entra. Algumas com bancos, outras com cadeiras divididas. Assim que a última pessoa se acomodou, a porta fechou rapidamente e o espetáculo se iniciou. O trabalho, como qualquer outro de qualidade profissional (ainda preciso procurar uma definição melhor pra isso que quero dizer) começou frio. “Lógico” pode dizer algum desavisado. Acontece que a primeira vista não dá pra saber o que vai acontecer. E conforme vai acontecendo, no começo, é chato. Sim, chato. Mas é aquela fase necessária pra te tirar da sua realidade cotidiana, dos pensamentos que te atrapalham até ali. É pra você achar chato mesmo, enquanto eles se preparam. Eles os atores, dançarinos, tudo resto. Veja como é eficiente: eles têm sua atenção pra achar que ta ruim. Agora podemos começar. Uma menina e dois rapazes. O Yuki, a moça e o cara desengonçado, mais durão. Começa com a moça. A ênfase. Ela começa de saia larga e coturno. O piso de madeira faz muito barulho. Faria, se ela não tivesse uma leveza que chama atenção. Cada vez que ela pisa no chão tem uma leveza junto de uma firmeza impressionante. Cada movimento é bastante cuidado. Eu sempre me pergunto se isso é ensaiado. Se sim, como que se ensaia uma coisa tão abstrata. Será que nas outras apresentações foi igual? De forma positiva de se perguntar. Agora começam os três a interagirem juntos. Começa algum indício de história. Há a porta aberta nos fundos, dois espelhos retos-móveis e cumpridos perto dessa porta. Agora começo a reparar realmente nos objetos cênicos. Na composição do palco. Duas mesinhas, uma arara de cabides, uma gelatina amarela sobre a mesa. Do outro lado duas moças cuidando do que parecia ser a sonoplastia e iluminação. Nada de se esconderem. Em frente a elas, um pequeno tablado com uma pequena mesa, uma chaleira e uma xícara. Sobre cada uma das duas mesinhas um aquário com tiras de papel vermelho dentro. Os três retiram uma das tiras de papel de dentro do aquário, cada um uma tira. Cada um lê a sua própria discretamente. Uma nova interação entre os três começa, a princípio confusa. Depois ainda continua confusa. Hehe. Então um dos três vai até o fundo esquerdo da mesa do som, onde agora reparemos várias linhas escritas. Cada uma descreve um movimento/ação. O cara desengonçado foi o primeiro a ir até lá, disse o que ele tirou no papelzinho e marcou como já feito no que estava escrito na parede. Repetiu com o de cada um, que disse o seu alto. Agora a moça propõe que fechemos os olhos. Ela descreve os movimentos que faz/fará ou que o valha. Uma seqüência que vamos acompanhando com a mente, sabendo exatamente o que ela estaria fazendo, com nossa imaginação. Quando abrimos os olhos, ela repete as ações que ela acabara de descrever. Assim que ela termina, o Yuki toma a cena. Ele começa numa espécie de solo. Então o rapaz desengonçado e a moça falam, como se fossem jornalistas, sobre quem é e o que parece Yuki. O japonês nascido na Bahia é um magricelo, muito magro, com movimentos extremamente leves. O pesado dele é mais leve que o leve que estou acostumado. Mas mesmo assim ele tem um equilíbrio que produz uma firmeza impressionante. Ele flutua pelo chão. Conforme iam colocando as características que atribuíam a ‘quem é o Yuki’ a dança ia mudando o ritmo. Ele ia se afetando da fala e conteúdo. Quando ele acabou, o cara desengonçado começou. O que achei que ia ser a mesma coisa e tal. Aqui é onde eu re retrato com ele. O cara pegou a moça pra dançar. Sério. Desengonçado pra dançar solo, porque em dupla... o cara moeu. Foi um tango contemporâneo. Imagine um dançarino de tango. Agora imagine um dançarino da Gotan Project. Era isso que ela era. Na hora só me vinha SEXO na cabeça. “Como assim?”. Realmente não sei explicar. A coisa fluía em dupla de uma maneira maravilhosa. Tudo bem, eu gosto mais de dança não-sólo. A próxima parte foi repetições do que foi feito anteriormente. Das tiras de papel, das interações, das frases na parede. Até que termina usando uma projeção direcionada, que vai indo até o teto. Sim, ele usaram o teto. Parafraseando o mais notável garoto propaganda da televisão brasileira, Fausto Silva, “Olôco meu”.
Análise poética.: Eu não escrevi do jeito que eu queria na análise anterior. Cada vez mais que passa o tempo com aula de expressão corporal e Fap como um todo, a concepção de moderno vai mudando. A minha. Hoje eu acho que concluí alguma coisas importantes. Principalmente uma, que vai ser o que terminará o diário de classe da primeira até a última aula da matéria. Ainda não teve, eu sei. Mas a conclusão me satisfez. Vou apostar em uma lauda só, para todas as aulas. Aqui é análise da peça, não é? Sim, é. Mas foi essa peça que me mostrou aonde a gente pode chegar se caminhar mais nessa linha da aula. Essa análise poética é assim, porque ela se trata de sentimento. Do meu sentimento, porque a análise é minha. Cada palavra que sai aqui vem de algum lugar novo, de sensação que foi produzida depois de ser afetada, como bem ouço sempre dizer nas aulas. Eu quero lembrar do que eu senti durante a apresentação e achar alguma obra que diga alguma coisa sobre o que eu quero expressar. (uma hora depois)
- Achei!
Aqui vai, cortesia do chapéu alheio:

O Intransigente

Não me chame de intransigente
Nem tente entender o que eu falar
Não pense que o mar e tão imenso
Pois tudo que eu penso é bem maior

Pensar que uma flor é um sinal
É um erro que te faz contente
Não me leve a mal, mas nunca achei
Que todo amor é uma semente

Reze pro teu santo protetor
Se pensas que a dor vai te levar
Pro eterno azul mais que distante
Não existe lá lá lá lá lá!!

(Oneide Diedrich)
Máu-ri.
Postando um trabalho da Facool
Sim, eu realmente entreguei isso.
Sim, eu acho bonito.